segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Por que paramos de ensinar?

Há uma situação insustentável, com a qual os sistemas públicos vêm se deparando, e tentando resolver, desde a década de 80.

Nossos índices de reprovação são absurdos e essa é a maior causa da evasão escolar, conseqüentemente. Ou seja, meninos e meninas, reprovados seguidamente, acabam abandonando a escola. São gerações e gerações vivenciando esse processo. O resultado não pode ser outro: desemprego, alastramento das ocupações informais e gente morando nas ruas.

Reverter esse quadro é tarefa das grandes.

Primeiramente, há que se levar em conta que vivemos numa estrutura escolar forjada no século XIX e com a qual lidamos até hoje: isso se manifesta desde a ocupação física da sala de aula – com carteiras dispostas umas atrás das outras – até a organização curricular – aulas de 50 minutos, de disciplinas diferentes, sem qualquer ligação entre elas, passando pelos cânones disciplinares, que mais parecem os de um quartel, do que de um local onde se aprende e se constrói conhecimento.

Aliás, esse último item não é reconhecido pelos próprios professores, uma vez que ainda se trabalha com a idéia de que a escola é local para “passar” informações, e não para criar conteúdo.
Junte-se a essa receita infalível o fato de que, a partir da década de 70, com a universalização do ensino, imposta por Lei Federal, as escolas passaram a receber, em massa, crianças e jovens das classes populares, que nunca se livraram do estigma de “não aprendem porque são pobres, e se são pobres comem pouco e mal, e se comem pouco e mal, seus neurônios não se desenvolvem como deveriam...”, portanto, acredita-se:eles não aprendem.

Um outro dado relevante é que a Academia que forma professores – que deveria sair na frente, propondo soluções e acompanhando o progresso de pesquisas e experimentando-as – continua a ser a mais retrógrada das instituições, a que tem mais dificuldade em avançar em qualquer proposta de mudança. É a manutenção do “status-quo”.

Nesse sentido, reprovar em larga escala os alunos compõe um quadro coerente.

O que, na minha opinião, é mais desastroso nisso tudo, não é o fato de se reprovar, mas é o fato de não se ensinar! Essa é a grande questão. Se estivessem reprovando alunos e, os aprovados estivessem saindo da escola muito sabidos, eu dava a mão à palmatória. Os meninos e meninas saem das escolas sem saber muita coisa, além do que teriam aprendido se não tivessem freqüentado escola alguma! Os alunos não pararam de aprender aprender. A escola é que parou de ensinar – ou insiste em ensinar o que não tem sentido, não tem significado.

Os índices de reprovação são lastimáveis? São, sem dúvida alguma, e há que se estudar a respeito do desenvolvimento da inteligência, para se perceber que o ser humano é um ser potencialmente "aprendente" – não devemos reprovar, pelo simples fato de que não desaprendemos; a reprovação leva à evasão? Perfeitamente. É ato contínuo. Mas não adianta apenas termos “escolaridade estatística”, é preciso que as pessoas se apropriem do conhecimento.

Se isso vai afetar a produtividade de um país, o que vocês acham?

Denise

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O que é que a gente tem a ver com isso?

Média do Enem deste ano é a pior desde 2002


Os quase três milhões de estudantes que fizeram a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) este ano tiveram, na parte objetiva, média de 36,90, a pior desde 2002 e 10 pontos inferior a 2003. Em nenhum dos Estados a média de acertos passou de 40%. Em redação, o resultado, como é recorrente, foi melhor que na prova objetiva, mas também caiu em relação a 2005 e só é maior que em 2004, quando a média foi, pela primeira vez, inferior a 50 pontos.

O Ministério da Educação afirma que não é possível comparar um ano do Enem com o anterior, já que a prova é voluntária e a amostra termina por ser diferente. Mas, com três milhões de pessoas candidatos a uma vaga no ensino superior, é possível se dizer que esses estudantes sabem menos do que deveriam depois de terminar a escola básica.

Mais significativo, os alunos chamados de egressos - que terminaram o ensino médio há mais tempo - tiveram resultados melhores do que estudantes concluintes, que ainda têm frescas na cabeça as matérias ensinadas na escola. "Pode ser que esses egressos já tenham feito algum curso, entrado na faculdade", diz Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação (Inep).

"O que acontece é que se perdeu o foco na educação básica e na aprendizagem dos alunos", diz o deputado Paulo Renato Souza (PSDB), ex-ministro da Educação. "O conjunto de resultados mostra uma deterioração, um retrocesso no ensino que é preocupante".
_________________________________________________________________________

Onde estão os nós?


É um quadro lastimável que os resultados das avaliações nacionais nos apresentam.

E isso reflete, sim, lá na frente, na falta de preparo do trabalhador, mas antes disso, esse quadro reflete o descompromisso da sociedade não apenas com a Educação, mas com ela própria.

Se quisermos entender um pouco desse processo, não podemos descontextualizar a Educação de todo o resto.

Quando pergunto onde é que está o nó, seguido de por que é que os professores pararam de ensinar, é porque tenho localizado esse "fenômeno" nos anos 80 pra cá.

Justamente quando os processos de desenvolvimento se aceleraram e as desigualdades foram ficando mais marcadas e marcantes.

A universalização da escola pública - trazendo pra dentro dela, obrigatoriamente, todas as crianças de 7 a 14 anos - começou nos anos 70, se consolidou nos 80, e encontrou professores completamente despreparados para lidar com essa realidade. As turmas de crianças limpinhas, bem alimentadas e com família estável, foram dando lugar a turmas de crianças sem referência familiar, sem alimentação adequada e sem noções básicas de "integração na estrutura social". Notem que em nenhum momento estou falando de crianças menos inteligentes ou com pouca capacidade de aprendizagem.

Mas, como disse antes, esse quadro não pode ser visto de maneira desvinculada do contexto sócio-econômico que também se apresentava nesse momento. Acabávamos de descobrir que o milagre econômico não existia, emburacávamos numa das maiores crises já vividas, traduzidas em desemprego em massa; além das famílias, também da classe média, começarem a desmoronar em todos os aspectos. Casamentos desfeitos passam a ser a tônica. A crise ética na política também começa a ficar mais evidente. Há correntes de estudiosos que afirmam, inclusive, que foi um período de pouca criatividade artística e cultural. O acesso às drogas também começa a se "naturalizar". E a corrida tecnológica avança enlouquecidamente. Não há lideranças e muito menos preocupação em formar novos líderes.

Viramos um país à procura de identidade.

E a escola? Completamente à parte disso tudo, continua a agir com o mesmo modelo do fim do século XIX e início do XX. Não sabe como se inteirar/integrar nessa realidade e ignora o contexto. E, parece, continua ignorando...

Junte-se a isso tudo, o descaso com a infra-estrutura educacional, o surgimento de inúmeros modismos pedagógicos importados e as relações de poder completamente corrompidas dentro e fora das instituições escolares.

Nesse momento, o professor, sem formação adequada (muitos, leigos, por esse Brasil afora), sem atualização profissional, sem salário digno, sem apoio pedagógico, sem, sem, sem... vai se tornando um profissional que não sabe mais de si mesmo, perdendo também a sua identidade, sem saber pra onde ir.

E pára de ensinar! Não porque quer, mas porque não sabe mais como, nem pra quê! Ele próprio passa a acreditar que não vale a pena investir "em quem não quer nada..." ou "que esse menino não vai ser nada na vida mesmo..."

Nossos professores desistiram dos nossos alunos, porque não aprenderam a lidar com a diversidade. Ainda são "preparados" para dar aulas para alunos ideais, interessados e obedientes, criados a danoninho, sustagem e leite ninho...

A escola vira um depósito de crianças e jovens, um onde ninguém mais quer estar. É ruim pra todo mundo.

E a escola insiste nas práticas tradicionais, desconhecendo todo o processo de mudança que vem ocorrendo continuamente e, quando percebe que precisa mudar, não sabe pra que lado ir, porque não está acostumada a pensar, só a cumprir ordens e medidas autoritárias, e portanto tem medo de ousar. E, pior que tudo, não tem um projeto de sociedade para tentar alcançar. Não tem metas, não tem utopia.

Quanto às questões disciplinares, situações de violência vivenciadas nas escolas, aprovação/reprovação, podemos continuar afirmando que não podem ser vistas de maneira descontextualizada. A escola não é um oásis no meio do deserto (embora até seja para alguns alunos), ela é produto do que acontece do lado de fora. A diferença é que ela não pode/deve reproduzir as atitudes do exterior, mas deve ter a preocupação de formar cidadãos para modificá-lo. E isso não está feito, não tem receita pronta. É construir no próprio caminhar.

Estamos diante de uma grande oportunidade de virar esse jogo, através do Projeto OLPC, que tem tudo para criar ânimo novo nos educadores, dando fôlego a quem precisa e apontando para uma escola que ensine e para professores e alunos que se percebam construtores de conhecimento.

Vamos começar do início?

Como dizia Paulo Freire, educamo-nos sempre em comunhão.

Partindo desse princípio, qualquer ato educativo pressupõe relação e presença, e com a atividade educativa via computadores não é diferente.

Ou seja, a educação virtual supõe conexão com outras pessoas: relação e presença.

E, se estamos todo o tempo falando em "Educação em Rede", "aprender em Rede", isso compreende que devemos passar a utilizar uma referência educativa exatamente oposta ao que se vê atualmente, que é uma educação individualista, voltada para a competição e para o "como levar vantagem".

A Educação em Rede necessita de conectividade, companheirismo, colaboração. E para que isso ocorra, eu já disse isso aqui outras vezes, precisamos de ideologia.

De nada adiantará distribuir computadores sem ideologia, sem mudança de comportamento, de atitude frente à aprendizagem. As máquinas podem chegar às escolas e nada representarem, se não houver uma mudança radical no ambiente escolar, nas concepções que ainda perduram. Tem que haver um projeto político-pedagógico que acolha o projeto de informática, e um projeto de informática que expresse o projeto político-pedagógico. É via de mão-dupla.

Moacir Gadotti (professor da USP e diretor do Instituto Paulo Freire), diz: "O novo meio exige uma visão mais construtivista e interacionista, em oposição ao instrumentalismo e à competitividade dominantes. Uma nova Pedagogia da Virtualidade faz-se necessária. Não basta ser usuário de um computador ou saber navegar pela Internet. Com a Educação em Rede, a formação centra-se na aprendizagem. Muda, portanto, o foco da educação tradicional."

E, para que isso ocorra efetivamente, precisamos de professores com uma nova atitude, porque espera-se uma Educação que também seja produção, seja mediação e acompanhamento. Por enquanto, os professores ainda não perceberam o seu tremendo potencial de companheiros de idéias emancipatórias e de fomentadores de projetos inter/transculturais.

Isso tudo pra tentar dizer que os softwares mais bonitos, sofisticados e competentes não garantirão melhoria de aprendizagem, sem que a dimensão desse professor/mediador seja revista, sem que haja uma profunda transformação dos modelos existentes.

Os softwares educativos, por si, não realizarão milagres.

A "Educação em Rede" tem todos os requisitos necessários para detonar a urgente e necessária mudança da escola que ainda existe.

E assim, quem sabe, os meninos passem a aprender a aprender?

Um grande abraço a todos

Respondendo a mais críticas à OLPC

Espaço há, pra tudo nesse mundo, mas temos a responsabilidade e cada vez mais consciência de que precisamos, sim, de discussões filosóficas, de parâmetros ideológicos - porque não existe Educação isenta de intencionalidade. E ao escolhermos essa ou aquela vertente, estamos dizendo a que viemos e aonde queremos chegar.

São as necessárias decisões políticas, no caso, político-pedagógicas.

Por se acreditar que há espaço para qualquer iniciativa, boas ou ruins (e essa adjetivação é absolutamente subjetiva), é que temos convivido com toda uma gama de situações cujo resultado é o que temos, quase nada. Confundimos instrução com Educação, sem conseguir sequer dar conta da primeira, ou imaginando que a primeira levará à segunda... Por se acreditar que qualquer iniciativa é válida é que se multiplicam os projetos de alfabetização, por exemplo, onde as pessoas aprendem apenas a decodificar o código, mas não se apropriam da leitura e da escrita, portanto, não aprendem a ler e a escrever...

Equívocos à parte... mais uma vez reitero a idéia de que estamos diante de uma oportunidade única, de estarmos fazendo parte de um momento histórico em que podemos mudar o rumo do que tem sido feito até então. Essa mudança é radical e diz respeito, sim, ao tipo de material que iremos utilizar e como iremos utilizar, porque sabemos onde queremos chegar. Queremos uma sociedade pensante, e para educar pessoas para pensar não serve qualquer iniciativa dita educacional.

Decididamente, "qualquer coisa" não serve!

É uma mudança que vislumbra um salto qualitativo na Educação do nosso país, levando em conta tudo o que já aprendemos. É hora de sair do lugar-comum, de fazer diferente, o que nunca foi tentado, sem medo de criarmos os nossos próprios modelos.

Respondendo às críticas à OLPC

Da mesma maneira que as crianças que terão oportunidade de lidarem com os laptops no seu cotidiano não deixarão de pular amarelinha, nem de brincar de pique-esconde, e ainda continuarão plantando feijões no algodão úmido e medindo a sala de aula com barbante - porque as coisas não se excluem, mas se complementam e se ampliam - convivemos com escolas onde os laboratórios de informática ficam fechados e, ainda, bibliotecas escolares não são acessíveis aos alunos, para não "estragarem", convivendo com iniciativas bastante sérias e produtivas - em escola públicas, sim - onde alunos e professores têm oportunidade de realizar trabalhos belíssimos de primeira linha.

Dêem uma olhada no http://internetnaeducacao.blogspot.com/ e encontrarão uma infinidade de relatos de experiências fantásticas que já estão acontecendo nesse país, envolvendo professores e alunos de escolas públicas que, a despeito de toda adversidade, encontram oportunidade e têm compromisso e responsabilidade com os princípios fundamentais da educação de construir conhecimento e autonomia.

Nós, educadores, somos responsáveis pelo debate e pelo esclarecimento pedagógico do que deve ser feito na escola. E escola é lugar de formar gente em suas potencialidades e diferenças.

Escola é lugar de compreender e aprender para o mundo que estamos vivendo agora, e não para um futuro que sequer sabemos qual será.

Escola é lugar de se pensar alternativas para melhorarmos o que não está bom, de se aprender a lutar pelo bem estar coletivo.

Escola é lugar de formamos pessoas para respeitarem-se umas às outras, para serem colaborativas, justas e dignas.

Escola é lugar de ampliar e produzir conhecimentos.

Escola é lugar de transformação.

E se a sociedade está do jeitinho que está, cheia de gente "sabida e esperta, que só sabe levar vantagem em tudo", é porque temos formado gerações e gerações, sem nos preocuparmos com as transformações necessárias, preocupados que somos com a manutenção de uma coletividade perversa, que já se mostrou suficientemente incapaz de acolher os verdadeiros valores da vida humana.

E os laptops chegam para ajudar nessa urgente e necessária mudança. E não pode chegar devagarzinho, nas pontas dos pés, mas tem que chegar assim mesmo, mobilizando as pessoas, desestabilizando as "verdades" estabelecidas e criando um caos inicial, para que depois se retome o ponto de equilíbrio.

E a gente continua pensando...

Vamos tentar... seguir a proposta de uma discussão mais metodológica.

Será bom iniciar recuperando a idéia básica de que tecnologia - a grosso modo - é tudo o que o homem produz pra facilitar a vida dele nesse mundo. Portanto, desde o tempo do machado, passando pela roda, pela frigideira, pelo lápis, pela máquina de lavar roupa e pelo secador de cabelo até... a parafernália eletrônica e digital...

Seguindo esse raciocínio, as pequenas máquinas também devem cumprir esse papel: a de tornar a nossa vida melhor, qualitativamente falando.

Ou seja, como daremos melhores aulas e como os alunos aprenderão com mais eficiência, utilizando as benditas?

A máquina é a máquina, está aí, com mil possibilidades e ampliando exponencialmente essas possibilidades diariamente.

Nesse momento, cabe insistir num ponto: não há projeto de educação, sem um projeto de sociedade.

O que queremos? Onde queremos chegar? Pra quê?

Essas respostas nortearão todo o "como fazer", que é a discussão metodológica que se faz tão necessária.

Nem é tão difícil assim de pensar...

Se queremos ter, lá na frente, uma sociedade de "vacas de presépio", de seres não pensantes, é só continuarmos a fazer o que já estamos fazendo há muito. É só continuar repetindo a fórmula que vem dando tão certo... profissionais desqualificados, preparados pela academia de maneira a continuar reproduzindo esse modelo desde o início do século passado; condições precaríssimas de trabalho (desde salas de aula sem iluminação até turmas de 50 crianças onde cabem 25...); relações de trabalho baseadas em autoritarismo e não em competência; tomadas de decisões individualistas onde perde-se completamente o foco que é o aluno; salas de leitura e laboratórios de informática que não são abertos para os alunos, para não estragar o material... e por aí vai... a lista é grande.

Isso tudo aliado ao fato de ainda não se perceber a provisoriedade do conhecimento e de que não há mais "donos do saber".

Nesse caso, é só continuar utilizando os livros didáticos que já existem (e que já vêm com as respostas dos exercícios prontas, pro professor não precisar queimar neurônios - ou por acreditar que nós nem temos isso), ou mandando os meninos copiarem o "arme e efetue" do quadro, ou ainda - numa perspectiva de modernidade - pedir que os alunos pesquisem "na internet" o "período colonial brasileiro" e ficar todos muito chateados porque eles "copiaram e colaram"...

Agora, se queremos ter, lá na frente, seres pensantes que atuem de maneira conseqüente e digna numa sociedade que se imagina que possa ser mais razoável do que a que estamos vivendo, tem que se mexer em tudo!

Desde a requalificação contínua dos profissionais da educação, passando pelas condições físicas das escolas, pelas relações solidárias entre as pessoas que lá atuam (não dá pra acreditar que todos passarão a trabalhar numa perspectiva colaborativa apenas quando se encontrarem diante das máquinas...), até a rotina de trabalho dentro das classes (pensando a metodologia).

E aí, se queremos que os meninos pensem, temos que ensinar a pensar! Temos que ser curiosos, para sermos capazes de instigar a curiosidade deles, temos que tentar acompanhar, todo o tempo, a lógica de cada raciocínio que resultou em alguma resposta, ou que ocasionou alguma pergunta, para poder mediar esse raciocínio.

Pensar as pequenas máquinas como objeto não apenas de acesso às informações - o que já é bom demais, na medida em horizontaliza esse acesso, rompendo com a lógica do "eu sei, você não sabe, portanto eu tenho mais poder que você..." - mas também como lugar de produção de conhecimento, onde os meninos devem ser levados a criar suas próprias conclusões, a criar soluções para situações problematizadoras, tendo como pano de fundo todo o conhecimento já armazenado e facilmente localizado.

A metodologia

É por aí... partindo de uma situação contextualizada ao universo do aluno, problematizada, desafiadora, refletir sobre ela e chegar a algumas conclusões, provisórias... e, se possível, com propostas de solução. Isso pode ser feito ao se analisar um texto incoerente, para torná-lo coerente... com uma expressão matemática, onde se busque um contexto situacional para expressá-la... com uma reflexão sobre a falta de água e seus efeitos sobre o meio ambiente... com provocações curiosas sobre a história e a geografia do nosso país e do mundo, além de passeios sobre o corpo humano e o mundo das artes.

E... caramba! O que não falta são programas pra nos ajudar a fazer isso de maneira mais organizada, mas bonita, mais rápida...

Isso não é fácil, porque não aprendemos, absolutamente, a fazer desse jeito. Portanto, não há história para ser copiada. Tem história pra ser construída.

Mas não tenho a menor dúvida de que estamos com uma grande oportunidade diante de nós: reconstruir esse país com o apoio inequívoco da educação e com as pequenas máquinas nos ajudando a pensar, e a ensinar a pensar de maneira mais eficaz.

Ah, antes que eu me esqueça, os PCNs, através das suas diretrizes apontam de maneira bastante coerente e conseqüente para uma sociedade pensante. Tem é que sair do papel... e começar a virar atitude.

O Projeto UCA/OLPC e o envolvimento dos professores

Não há projeto educacional sem o envolvimento dos professores.

Isso todos nós já sabemos. E não teremos professores preparados, devidamente preparados, - no caso especial que discutimos aqui, da utilização das pequenas máquinas - com "capacitações" rápidas e pontuais... com remendos de formação. Se for desse jeito, será um grande equívoco. E como não dá tempo de "graduar" novamente todos os que já se encontram no mercado de trabalho, a formação em serviço dos professores deve ser densa e contínua, junto com a dos meninos. E a revisão curricular dos cursos de Formação de Professores é urgentíssima (e, por falar nisso, não creio que a Academia esteja preparada pra essa tarefa). A reforma curricular, tanto para a Educação Básica, quanto para as Licenciaturas tem que ser radical, visceral (de virar as tripas, mesmo...). Não se trata de acrescentar mais uma disciplina chamada "Tecnologia Educacional"...

Imaginem o trabalho que temos pela frente:

  • utilizar a tecnologia a nosso favor, de maneira a realmente socializarmos e produzirmos informação e conhecimento,
  • buscando qualidade e conseqüentes melhorias para todos,
  • de maneira compartilhada.

Não é simples! Não se trata de ensinar os professores a lidarem com os computadores. É mil vezes mais que isso! É mudança de atitude em relação à vida! Nova forma de se conceber o conhecimento, a ciência, a cultura. É o professor sem certezas, sem verdades, apenas pronto para o "vir-a-ser".

Por isso não dá pra remendar...

Não podemos esquecer que o professor é também produtor de conhecimento!

Ele também tem que pensar e criar, e se sentir desafiado, senão ele acaba se percebendo apenas como um "orientador de tarefas a serem realizadas, e que foram pensadas previamente por outros"; e aí não há compromisso, nem responsabilidade pelo processo, uma vez que ele é só o cara que "aplica técnicas e segue roteiros". A "máquina de aprender" não pode ter receita. Ela é potencial, provocando potenciais. Essa concepção deve estar atrelada à escolha dos softwares que serão utilizados.


Lembremos, ainda, que não há salto qualitativo educacional sem que se queira que isso ocorra. Portanto, tem que haver vontade política. E, por favor, não dá pra falar em falta de verba pra Educação! Dá pra falar em verba mal utilizada, em desvio da verba da Educação pra outra "prioridade", em incompetência no gastar, mas não em falta. A maioria dos municípios brasileiros devolve recursos financeiros - para capacitação de professores - todos os anos ao Governo Federal, porque não consegue gastar... Todos os milhões despendidos anualmente em livros didáticos, vão pro ralo, uma vez que que encontramos milhares deles "guardados" nos almoxarifados das escolas, sendo corroídos pelas traças... Se não se realizar um trabalho muito sério com os professores, corremos o risco de, brevemente, encontrarmos laptops também guardados, sem chegar nas mãos dos meninos, pra não estragar...

Já disse algumas vezes na lista do "laptop100 - commits - request", o que vou repetir agora: tem que haver um "Plano de Educação" para esse país! O que queremos, onde e como queremos chegar, qual o tipo de sociedade que se deseja. É trabalho ideológico, mesmo! Por enquanto, estamos apenas colhendo os frutos do descaso, da falta de preparo, do descompromisso.

Estamos diante de uma grande oportunidade, de poder virar esse jogo, nesse momento em que tantas novas mudanças são necessárias. E fazer História, redefinir os rumos e reconstruir o que está por aí. Podemos começar por aqui mesmo, ampliando essa discussão na própria web, aproveitando para "treinar" essa forma de construir coletivamente.

Podemos fazer de conta que estamos saindo de uma guerra e precisamos reorganizar e reformar tudo... (acho que nem será muito difícil imaginarmos isso, né?)

Abraço fraterno

Denise Vilardo

Educação se faz com o corpo inteiro

"Falta à escola abordar o sentido da existência"
Frei Betto

Nunca se falou tanto na necessidade de uma escola plural, interdisciplinar, multicultural, holística. Uma escola que cuide da formação de um “ser integral”.

E, se até há alguns anos, essa necessidade era apontada pelos estudiosos da Educação numa concepção totalizante do processo educacional, baseada na não-fragmentação do conhecimento e no entendimento de que os seres humanos não são formados apenas de cognição, hoje é também uma exigência do mercado de trabalho. Algumas empresas, atualmente, no seu processo seletivo, pretendem averiguar, inclusive, a capacidade de sustentação emocional dos candidatos, além do seu potencial para trabalhar em equipe, dentre outras atitudes.

Mas, paradoxalmente, e por mais que estejamos vivenciando essa realidade, a escola – filha direta e dileta da tradição cartesiana – só se preocupa com a quantidade de informações que consegue passar (passar sim, e não construir). Ela continua se restringindo apenas à transmissão do patrimônio universalmente constituído, ignorando a reflexão sobre o contexto em que vivemos e pouco se importando com o potencial de modificação da realidade.

Essa idéia me faz lembrar de uma história infantil, de Ruth Rocha, chamada “Quando a escola é de vidro”, que começa assim:

“Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito. Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes... Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chagava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. É, no vidro! Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! O vidro dependia da classe em que a gente estudava. Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho. Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo á medida em que você ia passando de ano. Se não passasse de ano era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado. Coubesse ou não coubesse. Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.”

Ao dicotomizar o sentido da aprendizagem, do sentido da existência, a escola separa o espaço do conhecimento do espaço da vida, dificultando a reflexão sobre o cotidiano. Como se o aumento da violência urbana não tivesse nada a ver com as políticas salariais, sociais e outros ais; como se a poluição do meio ambiente não tivesse nada a ver com interesses econômicos inconfessáveis.

Vivi uma experiência que exemplifica bem essa questão: fui chamada para dar aula particular para um aluno de 15 anos, que estava cursando, na época, a sétima série de um colégio da classe alta do Rio de Janeiro. Ele era redator-chefe do jornalzinho do colégio e estava, ironicamente, com notas péssimas em Língua Portuguesa. Ah, ele também tinha uma banda de rock, onde era baterista. No nosso primeiro encontro, pedi que ele me falasse um pouco de sua experiência de músico. Em seguida, pedi que escrevesse sobre esse fato. Imediatamente e, diga-se, com muita rapidez e fluência, escreveu um ótimo texto de duas páginas. Li tudo e propus que começássemos a analisar o primeiro período do seu texto. Ele me olhou, muito surpreso, sem entender exatamente o que eu pedia que fizesse, e comecei a explicar, dizendo que iríamos verificar, naquele parágrafo, quais elementos da estrutura sintática estavam presentes, tais como: sujeito, predicado, adjuntos, tipos de verbos etc. Ao que ele, absolutamente surpreendido, me perguntou: e quando eu escrevo tem isso?! Ou seja, para ele, o conteúdo da disciplina Língua Portuguesa não tinha a menor relação com o que ele falava ou escrevia. Isso é assustador! Não se tratava de um aluno desinformado, muito pelo contrário, tanto era atento ao mundo e competente na desenvoltura com a Língua, que escrevia regularmente no jornal do colégio. Mas, vivia massacrado pelas “orações subordinadas substantivas objetivas diretas”, que não faziam o menor sentido para ele.

Continuamos educando para a competitividade e para o sucesso. Para o “tem que dar certo, sempre, a qualquer custo”. Permanecemos ignorando as questões fundamentais dos seres humanos, como se os medos, frustrações, fracassos, morte não fizessem parte da vida dos nossos alunos. E, diante dessas situações, a instituição se cala e finge que elas não acontecem.

Um amigo meu sempre diz que, se não fôssemos perder todos os alunos do colégio que, juntos, coordenamos, deveríamos colocar uma faixa na frente do prédio, onde se leria: “Aqui preparamos para o fracasso”. Porque, fundamentalmente, nosso compromisso é com o ser humano. E se conseguirmos ajudar a formar o caráter e a personalidade dos nossos alunos para lidar com as adversidades da vida, estaremos cumprindo, inequivocamente, o nosso papel.

A escola continua distante do mundo e, pior, distante, dos próprios seres que a constituem.

Mais do que nunca, é preciso re-humanizar essa instituição formadora de homens e mulheres. Precisamos de pessoas sabidas, mas precisamos, fundamentalmente, de pessoas dignas, com boa formação de caráter, éticas e solidárias. É preciso socializar valores de justiça e respeito.

Talvez seja necessário lembrar que o ato de ensinar, supõe refazermos o caminho que nos trouxe até um determinado conhecimento. Talvez seja bom lembrar, também, que o sentido etimológico da palavra pedagogo é aquele que conduz, o guia, o mestre. E aí teremos aquele que retoma um caminho já percorrido, ampliando o já conhecido e formando novas concepções.

O ser humano já sabe do que é capaz de realizar. Só está faltando fazer melhor.

Denise Vilardo

O mais difícil mesmo é ensinar a desler...

De uns tempos pra cá tenho me dedicado a trabalhar com alunos e professores a partir da desconstrução de determinadas “verdades”, tentando ultrapassar o excessivo senso comum que tomou conta do cotidiano das pessoas.

Esse tem sido o maior dos desafios.

Na Educação, temos como proposta maior, desde a década de 70, “tornar o aluno um cidadão consciente e crítico”.

Mas como é que se faz isso? Qual curso de Formação de Professores ensina a ensinar a formar cidadãos conscientes e críticos?

O que temos é algo bastante longe disso. São gerações sendo formadas dentro de algumas formatações curriculares, onde o conteúdo é o que é, porque é o que tem que ser dado... por causa do vestibular... (e aí a escola se distancia mais ainda do seu objetivo principal, se confundindo com cursinhos preparatórios – mas isso é outra história).

Se no Ensino Fundamental e Médio essa é a configuração que temos, a Academia também não se distancia muito disso. Estão aí as diferentes graduações, preparando para os concursos públicos... E, pior, cursos das diversas licenciaturas, onde teoricamente são formados os professores, também parecem não se preocupar muito com o ensinar a ensinar a pensar. Os alunos-mestres têm que se submeter às determinações – nem sempre coerentes – de seus orientadores e das próprias instituições – e, na maioria das vezes, são obrigados a se adequar, porque senão, não conseguem se formar. Decididamente, a Universidade, hoje, não é o melhor lugar para pensar... (mas isso também é outra história).

É evidente que essa situação não foi construída de uma hora para outra, que é fruto de anos e anos de descaso para com o que realmente acontece dentro das salas de aula e com a formação docente, e que ela apenas reflete a falta de expectativa (ou, pelo menos, a pobreza de expectativas) que é oferecida em termos de inserção no mercado de trabalho produtivo.

E aí, a escola permanece repetindo modelos, repetindo, se repetindo incansavelmente. Reproduzindo o que era verdade no século XIX, inclusive no que diz respeito às condições físicas.

Carlos Drummond de Andrade, certa vez, questionou:

Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo? (...) A escola enche o menino de Matemática, de Geografia, de Linguagem, sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da Matemática, da Geografia, da Linguagem. A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento do mundo.

Diante desse quadro, o desafio dos educadores é ainda maior, porque remete a algo bastante subjetivo, que é o que chamamos de “visão de mundo”. Porque não significa apenas o compromisso com a discussão das diferentes “visões de mundo”, é mais que isso. É discutir filosófica e ideologicamente tudo o que ocorre. É o educador rever continuamente o seu fazer, é desconstruir as “verdades” a que me referi no início, é duvidar de tudo, é entender a provisoriedade da próprio conhecimento. Não mais receber as informações e o conhecimento como coisas prontas e acabadas, mas acreditar na potencialidade do que está sendo pensado agora, no vir-a-ser. É, principalmente, arriscar. E arriscar-se.

Na prática, isso significa ensinar os alunos a “lerem nas entrelinhas”, a perceberem a intencionalidade de uma ironia, a questionarem o sentido de cada conteúdo trabalhado, a se entenderem como também produtores de conhecimento.

Mas... o professor tem que saber fazer isso... ele tem que aprender a pensar. Ele tem que aprender a ensinar a pensar. Ele tem que aprender a ensinar a desler...

Nesse momento, creio que estamos diante de uma excelente oportunidade de investirmos na educação de educadores. A chegada das “pequenas máquinas” - como costumo chamar os laptops do Projeto “One Laptop per Child - será uma ocasião mais que favorável para essa aplicação de recursos e de esforços. A preparação dos educadores para lidarem com as máquinas é imperiosa! E temos que ir além. Preparar os educadores para formar os tais cidadãos conscientes e críticos continua na ordem do dia.

Ah, já ia esquecendo... só recuperaremos o ser poético de cada criança, quando os professores se perceberem como pessoas ainda capazes de viverem o estranhamento que é o ser da poesia.

Denise Vilardo

As Profissões Invisíveis

Há algum tempo saiu uma reportagem numa dessas revistas semanais, contando sobre a experiência de um psicólogo, estudante de mestrado na USP.

Durante um bom tempo, não lembro exatamente quanto, ele se vestia de gari e ficava varrendo o campus universitário. A experiência serviu de pesquisa para a sua dissertação, que pretendia discorrer sobre as “profissões invisíveis”*.

O estudante ficou entre assustado e deprimido, porque seus colegas e professores passavam por ele e sequer o cumprimentavam, não o reconheciam naquele uniforme, simplesmente porque não percebiam a sua presença.

O professor da Universidade Federal de Sergipe, Doutor Marcus Eugênio, em recente entrevista aos jornalistas Paloma Abdallah e Wellington Nogueira, diz que existem basicamente duas teorias para explicar as causas da invisibilidade social.

A primeira explica a invisibilidade a partir da percepção dos indivíduos. As pessoas estariam tão familiarizadas com o ambiente, que ele não produziria qualquer tipo de estímulo nelas. Assim, como um pedinte já faz parte da paisagem do centro das grandes cidades, muitas vezes passamos por eles e não nos damos conta. Segundo ainda o mesmo professor, a outra teoria utilizada pela Psicologia é a da banalização. Essa tem a ver com a despersonalização dos indivíduos. Muito utilizada no exercício de certas profissões, como por exemplo, os médicos, quando tratam seus pacientes pelo número do quarto em que estão internados ou pela doença de que o paciente é portador. Ou, ainda, quando os professores “conhecem” seus alunos pelo número da ficha de chamada.

Trouxe essa discussão para os meus alunos – turma de adultos que já trabalham na área das Telecomunicações – e que, pressionados pelas firmas, vêm buscar o curso técnico. E foi uma discussão muito rica, com tristes constatações, na medida em que eles se perceberam como parte desse grupo de profissionais “invisíveis” todo o tempo, porque trabalham nas ruas, pendurados nos postes, ou enfiados nos subterrâneos das cidades.

Muitas outras profissões e outras tantas ocupações trazem a marca da invisibilidade. E são, na maioria da vezes, praticadas por quem nos assegura limpeza urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação. São os lixeiros, enfermeiras, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais.

O que não nos causa orgulho algum é a confirmação de que a invisibilidade social atinge todas as profissões que na, escala social, são consideradas inferiores.

São pessoas que trabalham diariamente, têm responsabilidades e, no entanto, só o que se enxerga é o que está fora delas, é o que elas produzem, é o serviço que elas prestam. E, só as olhamos, se ficarmos insatisfeitos com a qualidade do serviço oferecido.

O ser humano tem que vir em primeiro lugar, sempre. Não dá mais para ficarmos errando tanto...


*Seu estudo deu origem ao livro “Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social”. E seu nome é Fernando Braga da Costa.


Denise Vilardo

Fiquei com vergonha

Enquanto isso... lemos no suplemento Megazine, do O Globo, dessa semana (17/04/07): duas páginas falando de como os indígenas estão utilizando a internet, tanto para se comunicarem, divulgarem sua cultura, como para aprenderem espanhol, por exemplo; mostrando como homens e mulheres podem se beneficiar da tecnologia dos computadores, nos lembrando a idéia primordial de que toda tecnologia é criada para servir ao ser humano.

Em seguida, somos nocauteados, com uma reportagem que conta como alguns colégios particulares aqui do Rio estão preparando os meninos e meninas do Ensino Fundamental para o Vestibular!!!! Com testes simulados aos sábados, para já irem treinando... desde a quinta série!

É a instituição escolar torturando cada vez mais cedo!

O que é isso, professores???

Como é que pessoas teoricamente preparadas para lidar com crianças e jovens nas escolas conseguem defender essa idéia? O que está acontecendo? Perdemos completamente a razão?

Estamos esquecidos do nosso papel de educadores? O papel da escola se resume a isso? Preparar para o vestibular? Quer dizer que o certo, que a coisa boa a se fazer é adestrar nossos jovens cada vez mais cedo?

Ou seja, ao invés de combatermos um sistema que é injusto, incoerente e massacrante, nós o fortalecemos, com a desculpa de que estamos preparando os jovens.

Não acredito que professores comprometidos com o exercício da cidadania de seus alunos, preocupados com a formação de pessoas de bom caráter, interessados em construir conhecimento e a autonomia com esses jovens concordem com esse esquema de trabalho.

Que equívoco, professores, que equívoco!

Será que nem os resultados do ENEM fazem os professores perceberem que esse esquema não dá certo? O ENEM pressupõe que os alunos estejam aprendendo a pensar, articulando conhecimentos de áreas variadas e que saibam criar argumentos para defender suas idéias através da linguagem escrita.

A UERJ e a UFRJ – cada uma a seu modo - também esperam alunos pensantes, que escrevam com desenvoltura, e não alunos que decorem esquemas e técnicas.

E o que se faz é tentar enquadrar isso num modelito que sirva para todos, criando turmas especialmente adestradas para responder questões supostamente pré-formatadas.

E, por favor, não me venham com a história de que estamos atendendo os anseios dos pais ou que estamos preparando para o futuro.

Escola não é curso preparatório! Escola não é lugar para manutenção e confirmação do que não é bom. Escola não pode ser excludente.

Nós, educadores, somos responsáveis pelo debate e pelo esclarecimento pedagógico do que deve ser feito na escola. E escola é lugar de formar gente em suas potencialidades e diferenças.

Escola é lugar de compreender e aprender para o mundo que estamos vivendo agora, e não para um futuro que sequer sabemos qual será.

Escola é lugar de se pensar alternativas para melhorarmos o que não está bom, de se aprender a lutar pelo bem estar coletivo.

Escola é lugar de formamos pessoas para respeitarem-se umas às outras, para serem solidárias, justas e dignas.

Escola é lugar de ampliar e produzir conhecimentos.

Escola é lugar de transformação.

E se a sociedade está do jeitinho que está, cheia de gente “sabida e esperta, que só sabe levar vantagem em tudo”, é porque temos formado gerações e gerações, sem nos preocuparmos com as transformações necessárias, preocupados que somos com a manutenção de uma coletividade perversa, que já se mostrou suficientemente incapaz de acolher os verdadeiros valores da vida humana.

Os grandes pensadores-educadores desse país, que pensaram uma escola que dignificasse o ser humano, como Paulo Freire e Darcy Ribeiro, devem estar revirando no túmulo.

Se os colegas não considerarem nada disso como relevante, que pensem em suas vidas de estudantes e lembrem-se da tortura das “semanas de provas”, da angústia e da ansiedade que elas causavam e, pelo menos, reflitam sobre os motivos de estarmos até hoje reproduzindo essa situação e, pior, antecipando nas vidas de nossos alunos esses momentos doentios.

Convenhamos, isso não faz bem a ninguém.

Cadê os educadores dessa cidade? Por favor, apresentem-se, pra eu não morrer de vergonha.



quarta-feira, 13 de junho de 2007

Vida


"Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar sua beleza, tem que ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira."
Rubem Alves

Concerto para corpo e alma.